Partilhe nas Redes Sociais
A autobiografia em 3 volumes onde o mais icónico presidente do século XXI fala das suas origens familiares e da sua vida pré-presidência.
25 fevereiro
De vez em quando, porém, sentado no chão com a minha mãe, contemplava o retrato do meu pai e ouvia os acontecimentos da sua vida a transformarem-se numa única narrativa. Era africano, vim a saber, um queniano da tribo luo, nascido nas margens do lago Vitória, numa aldeia chamada Alego. A aldeia era pobre ,mas o seu pai – o meu outro avô, Hussein Onyango Obama – fora um lavrador importante, um ancião da tribo e um curandeiro. O meu pai cresceu a pastorear as cabras do pai e a frequentar a escola local, criada pela administração colonial britânica, onde revelara ser grande promessa. Acabou por ganhar uma bolsa para estudar em Nairobi; e depois, nas vésperas da independência do Quénia, fora escolhido pelos líderes quenianos e patrocinadores americanos para frequentar a uma universidade nos Estados Unidos, juntando-se à primeira grande onda de africanos enviados para aprenderem a tecnologia ocidental e a levarem de volta para forjar uma África nova e moderna.
- Barack Obama
4 março
A mudança não virá de cima, dizia-lhes. A mudança virá das bases mobilizadas. É isso que vou fazer, organizar os negros. A nível das bases. Para a mudança […] Agora, olhando para trás, posso encontrar uma certa lógica na minha decisão, mostrar que tal decisão se inseria numa história muito mais longa, que começava com o meu pai e, antes dele, o pai dele, a minha mãe e os seus pais, as minhas recordações da Indonésia com os seus pedintes e agricultores e a perda do Lolo para o poder, passando por Ray e Frank, Mascus e Regina; a minha mudança para Nova Iorque; a morte do meu pai. Posso ver que as minhas escolhas nunca foram verdadeiramente minhas – e que é assim que deve ser, que afirmar o contrário é correr atrás de uma liberdade de um tipo bastante triste. Contudo, esse reconhecimento só veio mais tarde. Na altura, quando estava prestes a concluir a licenciatura, agia sobretudo por impulso, como um salmão que nada cegamente, subindo a torrente, em direcção ao local onde foi concebido.
- Barack Obama
11 março
Esta viagem ao Quénia iria finalmente preencher esse vazio? As pessoas de Chicago pensavam que sim. Vai ser como o Raízes, dissera-me Will, durante a minha festa de despedida. «Uma peregrinação», chamara-lhe Asante. Para eles, tal como para mim, a África tornara-se mais uma ideia do que um local concreto, uma nova terra prometida, cheia de tradições antigas e paisagens amplas, lutas nobres e tambores que falavam. Com o benefício da distância, envolvíamos a África num abraço seletivo — o mesmo tipo de abraço que eu, outrora, dera ao «Velho». O que aconteceria quando transpusesse essa distância? Era bom acreditar que, de alguma maneira, a verdade me libertaria. Mas se isso fosse falso? Se a verdade só desiludisse e a morte do meu pai não significasse nada, e o facto de me ter deixado para trás não tivesse o menor significado, e o único laço que me prendia a ele, ou a África, fosse um nome, um tipo sanguíneo ou o desprezo dos brancos?
- Barack Obama